Longos anos
volvidos após os meus estudos liceais, a impressão que me ficou, é a de que qualquer aluno que tivesse passado
pelas bancadas do dr António Aurélio
Gonçalves, por mais desinteressado que fosse, não deixaria de se sentir atraído
pelas interessantes conversas das suas
aulas de Filosofia. Eram longas dissertações que tinham por base textos de
autores seleccionados para a nossa
apreciação, comentados , desenvolvidos, acrescidos na sua variedade dispersa
que incluía anedotas que descontraíam e até certo ponto serviam de mnemónica
para a fixação de determinadas noções.
Ao recordar com uma colega muito especial dos tempos de
liceu e de memória priviligiada,hoje reformada das suas funções de professora
de Biologia, veio-nos à memória o nome
de um desses autores :Alexix Carrel no seu livro “ O homem, esse desconhecido”.
Eram ensinamentos que prendiam a nossa atenção,
muitas vezes pelo humor e sabedoria com
que nos eram transmitidos. Assim se infiltravam vagamente
nos nossos conhecimentos , não
pesando mas deixando-nos aquele sentimento de admiração e vontade de ouvir
mais.
Na primeira
aula do ano lectivo de 1949-1950 foi-nos transmitido deste modo o conceito de Filosofia: “É a síntese
flutuante das aproximações hipotéticas da Verdade que a Ciência procura
conhecer”. Depois do significado etimológico da palavra, foi-nos lançado, com o
sorriso que caracterizava o nosso
professor ,esta reflexão que despertou a nossa curiosidade sobre o conteúdo da
disciplina que abordávamos com ansiedade.
Não foi só a disciplina de Filosofia que nos foi
ministrada por este professor de raro talento. Em regime de substituição também
foi nosso professor de Francês , História, Ciências Geográfico-Naturais.
Aconteceu
numa fase em que ele trabalhou como professor eventual, situação por que muitos
passavam até conseguirem um contrato que permitia maior estabilidade na
carreira.Situação instável e insegura e que os disponibilzava a preencher as
lacunas deixadas por aqueles que já pertenciam ao quadro docente.
Conta-se que numa dessas ocasiões, o próprio chegou a
interpelar um Governador da Colónia se achava justo que um professor que
tivesse escrito e publicado em Lisboa uma obra como “Aspectos da Ironia de Eça
de Queirós” pudesse ainda não ter algo que tornasse a sua carreira profissional
mais estável.
A sua marca foi ficando em cada uma das disciplinas.
Na disciplina de Francês pela maneira como nos chamava, aplicando o hábito que
os franceses têm de pronunciar o a final
das palavras como em Maria- Mariá.
Por tudo isso recordo, com todo o carinho esse
professor que me marcou, inconfundível ,admirado, querido.
Reconhecendo que de facto são raros os testemunhos que
restam desses tempos saudosos, aceitei a sugestão que gentilmente me foi feita
por um membro da AMNR,dra Maria Margarida Alfama Fragoso, minha prima e amiga
Maguy, de apresentar aqui o meu.
Justa homenagem
lhe seja feita em tudo que possa
eternizar a lembrança da sua passagem por esta ilha, esta cidade de que fez
parte, em que deixou história,palco dos
seus interessantes contos e novelas.
É imensa a minha gratidão , na minha memória ficará Paz à sua alma, professor amigo
Maria Faria
de Brito
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